Mini-curso: “Do rigorosamente vago: seu papel numa teoria da tradução”

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA / UFBA

MINI-CURSO

Do rigorosamente vago: seu papel numa Teoria da Tradução de extração wittgensteiniana



Paulo Oliveira (USP/UNICAMP)

 

  • QUANDO? 1a sessão: 17/out./2019, 14hs-18hs // 2a sessão: 18/out.2019, 08hs-12hs // 3a sessão: 18/out./2019, 14hs-18hs
  • ONDE? Sala de Videoconferência (ao lado do Auditório), Pavilhão Raúl Seixas, FFCH / UFBA
  • O QUÊ? Atividade de extensão aberta ao público. Haverá emissão de certificado (c/h 12hs). Não é necessário realizar inscrição.
  • Programa completobit.ly/rigorosamente-vago
  • Responsável: Rafael Azize, <rafaelazize@gmail.com>.

RESUMO



Desde a chamada “virada cultural” ocorrida nos Estudos da Tradução nas últimas décadas do século passado, o debate na área tem girado em torno de dicotomias como relativismo vs. essencialismo ou “fidelidade” vs. “função”. Propõe-se neste curso mostrar em que medida a filosofia tardia de Wittgenstein oferece instrumentos para dissolver alguns falsos dilemas nesse embate. Um elemento central nessa discussão é a noção de conceitos rigorosamente vagos e o lugar que ocupam no “kit do tradutor” proposto por Gideon Toury. O minicurso está estruturado em três encontros, sendo o primeiro deles de natureza mais expositiva (palestra), e os dois outros um diálogo que procura estabelecer pontes entre teoria e prática, tendo sempre por foco o ato tradutório em si, e suas condições de possibilidade.



Público-alvo: O mini-curso destina-se a profissionais de filosofia, letras, artes, direito, linguística, tradução e interpretação e outros interessados no problema da interpretação, em particular na sua aplicação a teorias filosóficas sobre o ato tradutório.



Palavras-chave: filosofia da linguagem; teoria da tradução; Toury & Wittgenstein



PROGRAMA



1a sessão



Na investigação acadêmica/científica, o vago costuma ser tratado como desvio do exato. Para Frege, “pai” da lógica moderna, um conceito não-exato nem merece o status de conceito. Em sua obra tardia, Wittgenstein afasta-se de Frege nesse aspecto, valorizando o vago, seja via ligações analógicas em conceitos como “visão perspícua”, “elos intermediários”, “semelhanças de família”, “ jogo de linguagem” e “forma de vida”, seja na investigação sistemática de conceitos intrinsecamente vagos, como “campo de visão”, “mais ou menos”, “etc.”, além dos assim chamados “conceitos psicológicos”, como “memória”, “expectativa” etc. A noção de “semelhanças de família” tem recebido alguma atenção nos Estudos da Tradução, ainda que nem sempre essa recepção seja plenamente adequada. Das leituras correntes, a mais rigorosa é feita pelo teórico da tradução israelense Gideon Toury, cujo “kit do tradutor” comporta dois vetores (“adequação” vs. “aceitabilidade”) e a inescapabilidade de um compromisso ad hoc entre eles a cada decisão tradutória. Ao entenderem as “semelhanças de família” como conceito agregador (cluster concept), muitos comentadores o fazem por oposição ao conceito “propriamente dito” – com o ideal da exatidão. Proponho que: 1) as semelhanças de família não apenas resultam de analogias, vagas por natureza, mas também estabelecem uma precedência lógica do vago sobre o exato; 2)  o vetor da “adequação” de Toury é de natureza analógica, com todas as implicações daí recorrentes; 3) a “simples analogia” inicial adquire o status de “tradução” no momento em que sua “aceitação” modifica o escopo da “aceitabilidade” no sistema de chegada; 4) esse processo, que incide sobre as normas do sistema de chegada, tem a dinâmica do a parte post nos termos do epistemólogo francês G.-G. Granger e de sua expansão pelo filósofo brasileiro Arley Moreno. Esse é um dos principais resultados da proposta de uma epistemologia do traduzir na qual tenho trabalhado nos últimos anos.



Palavras-chave: filosofia da linguagem; teoria da tradução; Toury & Wittgenstein



2a. e 3a. sessões

 

  1. Parte expositiva, contextualizando e expandindo alguns aspectos tratados na palestra

    a. A consolidação dos Estudos da Tradução como área acadêmica autônoma e desdobramentos observados nas últimas décadas;

  2. A presença não explicitada e pouco percebida do legado de Wittgenstein na quebra de paradigmas na área;
  3. Hipótese central: concepção de linguagem é logicamente anterior a qualquer teoria da tradução – três passos para um verificação de coerência
  4. De como comentadores de Wittgenstein passam ao largo do funcionamento da linguagem ao falarem da tradução
  5. Mobilizando Wittgenstein para pensar a tradução

    a. Conceitos da obra tardia e seu potencial de aplicação nos Estudos da Tradução;

  6. Seleção de tópicos envolvendo tradução, a serem abordados segundo uma perspectiva tributária da obra do Wittgenstein tardio
  7. Parte prática

    a. Participantes trazem questões relativas à tradução (casos concretos), a serem discutidas segundo a ótica do minicurso;

  8. Seleção conjunta dos tópicos a serem trabalhados, por critérios de relevância;
  9. Discussão em grupos de trabalho e apresentação dos respectivos resultados;
  10. Síntese do trabalho, retomando a relação com a visão apresentada na parte expositiva.